sexta-feira, 24 de junho de 2011

Conhecimento base - Desenho animado e imagens em camadas

Quando era pequeno eu gostava, como centenas de milhares hoje também gostam, de Desenhos Animados. E alguns até dizem que eu ainda não cresci. Talvez estas pessoas estejam certas, mas principalmente quanto a um aspecto em particular... Eu cresci gostando de muitas coisas que eu já gostava quando era garoto. E desenho animado é uma delas.

De forma análoga a muitos durante a minha infância eu queria saber como é que as pessoas faziam para dar movimentos aos desenhos até porque os que eu fazia em casa permaneciam parados. Se você pensou algo semelhante, não se preocupe, eles não tem que se mexer na folha mesmo não.

O que ocorre é que nossos olhos possuem um recurso (alguns chamam de deficiência) que faz com que uma imagem fique em nossa memória visual por alguns instantes. Este recurso é chamado de persistência retiniana ou persistência da visão. Assim, a retina possui o recurso para reter uma imagem por cerca de 1/20 à 1/5 segundos após o seu desaparecimento dos olhos, ou seja, é a fração de segundo em que a imagem permanece na retina.

É este recurso que nos permite assistir a filmes sejam eles de animação ou não (os chamados live action). Isso ocorre porque no cinema o projetor está exibindo para nós 24 imagens por segundo. Isso mesmo, no cinema nós temos para cada segundo de filme (de animação ou não) 24 imagens que são projetadas para os nossos olhos. É tão rápido que o nosso cérebro não percebe que elas trocaram.

Estas imagens quando representam parte de um movimento são bem parecidas umas com as outras o que nos dá a impressão de que são a mesma imagem, mas não são. Observe abaixo a sutil diferença entre uma pose e outra. Simplificando ao máximo, o que os animadores fazem é criar esta diferença entre as imagens.



Agora observe abaixo que, quando as exibimos para você, trocando-as rapidamente de uma para a outra, seus olhos não conseguem perceber que há a troca. A não percepção do movimento pode representar alguma deficiência visual.





Sabendo agora que a animação no cinema tem 24 imagens (que nós chamamos de fotogramas ou quadros ou frames quando o termo está em inglês) diferentes, significa que para um filme de uma hora teremos pelo menos 129.600 fotogramas diferentes. Se um personagem permanecesse na tela durante todo o tempo de duração do filme o(s) animador(es) teria(m) que criar todas as cento e vinte nove mil e seiscentas imagens diferentes. É bastante trabalho, não? 

Agora para que possamos entender melhor o que é animação vale recorrer à origem do termo "Anima" que quer dizer "dar alma a". Isso também significa que animar não é (ou ao menos não precisaria ser) simplesmente mover algo de um lugar para o outro.

Originalmente a animação surgiu sem que trabalhasse com camadas. Ou você realmente pensou que os criadores do Photoshop é que tiveram esta brilhante ideia? Claro que não. As camadas na animação, como dizia antes, não eram utilizadas como foi o caso do filme abaixo "Gertie a dinossauro" (Gertie the Dinosaur, EUA, 1914) com direção de Winsor McCay, onde todo o cenário teve que ser redesenhado a cada fotograma de forma idêntica à própria Gertie.





O registro das camadas na animação é datado no mesmo ano de 1914 "...quando é patenteada aquela que efetivamente foi a maior contribuição técnica para a animação tradicional até o advento da computação gráfica: o desenho sobre folhas de celulóide transparente – No Brasil, vulgarmente chamada de acetato. Essa inovação coube ao animador norte-americano Earl Hurd" (BARBOSA JÚNIOR, 2005, p. 66). Com isso o animador passou a poder separar cada personagem num celulóide diferente e o cenário também em outro celulóide diminuindo o prejuízo em caso de erro de algum desenho e acelerando a produção.

Duas décadas depois surge a profundidade no desenho animado com a câmera multi-plano desenvolvida por muitos profissionais da animação e aperfeiçoada pela empresa de Disney. Assista ao vídeo abaixo e veja o funcionamento daquela que a Disney ajudou a aperfeiçoar.



A primeira animação criada pela Disney com uso do equipamento foi o curta-metragem "O velho moinho" (The old mill, EUA, 1937) e que ganhou o Oscar no ano seguinte.



Como você pode ver, o que os softwares hoje fazem é dar passos mais largos e "converterem" para o digital ideias e conceitos que já foram estudados antes.

Links relacionados
IDLEWORM  (site em inglês)
Livro de Alberto Lucena Barbosa Júnior
Quadro-a-quadro (site em português da Escola de Bela Artes da UFMG sobre animação)

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